Percevejo - Infestação de Percevejo é Coisa Seríssima
- Denis Svet

- 11 de dez.
- 3 min de leitura
Infestação de Percevejo é Coisa Seríssima é o primeiro álbum da banda
fluminense Percevejo, que desembarcou nas bibliotecas virtuais em 28
novembro. Formado em 2023 por Bruno Falque (baixo), Iuri Chicharo (bateria) e
Yuri Neri (guitarra e vocais), o trio transforma o caos cotidiano do Rio em um pop
rock carinhosamente crítico e bem-humorado, que ri dos próprios perrengues e,
ao mesmo tempo, encontra beleza no improvável.

O disco foi gravado entre 2023 e 2025, em sessões feitas nos finais de semana
depois dos expedientes, enquanto os integrantes tentavam conciliar suas rotinas
de trabalho e estudo com a agenda de Sidney Sohn Jr., responsável pela
produção, mixagem e masterização.
Com exceção da faixa Três, todas as músicas foram compostas em 2023 — ano em
que os integrantes se conheceram — e começaram a ser registradas no mesmo
período. Por isso, o álbum conserva o ímpeto criativo e a energia inaugural
daquela amizade que ainda estava nascendo. “Antes mesmo de ensaiar de
verdade, a gente já estava gravando. Queríamos capturar aquele primeiro Bruno é de Campo Grande, Iuri é de Nova Friburgo e Yuri é de São Gonçalo, três
origens que desenham um triângulo de experiências dentro do estado e dão
origem ao Guanabara Rock, termo criado pelo trio para definir a identidade
sonora de quem é fluminense, mas está longe dos cartões postais da Cidadade maravilhosa

Essa ideia já aparece na faixa de abertura, também chamada Guanabara Rock,
que funciona como um mission statement: versos como “‘nóis é’ surf rock, mas o
Hawai é a Baía de Guanabara” deixam claro que o Rio retratado aqui não é o
mesmo de Garota de Ipanema ou Samba do Avião . “Toda música, algumas mais
diretamente, outras menos, fala sobre o subúrbio de alguma forma”, afirma Yur
Essa relação faz com que o cenário suburbano seja protagonista até mesmo em
faixas mais despretensiosas e românticas, como Espaço-tempo e Dengue, que
vêm logo depois de Guanabara Rock.
Na sequência, músicas mais contemplativas — O Lado Escuro da Rua,
Cidade-satélite e Nós — aprofundam o conceito do disco, criando metáforas que
aproximam o dia a dia metropolitano de referências cósmicas. Nesse pequeno
exercício de realismo fantástico, falhas no asfalto viram crateras no lado escuro da
lua e cidades que por muito tempo foram chamadas de “cidades-satélites”
passam a orbitar como satélites de verdade.
Incendiário e Três intensificam as guitarras e dão voz às dores por paixões m
sucedidas. As duas se tornaram as queridinhas do público no primeiro show da
banda, realizado em setembro, na Audio Rebel, tanto que acabaram sendo
repetidas. “Não tinha nem bis planejado, mas a galera animou e a gente tocou de
novo”, lembra Iuri.
A trindade final — Fome de Feijão, Bardobiu e Jet Skis — reúne cançõ
etilicamente inspiradas, fechando o disco como um brinde às pequenas epopeias
urbanas que nascem entre bares baratos, ruas alagadas e histórias que só fazem
sentido depois do segundo copo.
E foi justamente em um desses ambientes que surgiu o nome do álbum. Em
2024, um tuíte sobre uma infestação real de percevejos em cadeiras de madeira
no Centro do Rio viralizou rapidamente. Apesar da seriedade do assunto, o tom da
publicação era involuntariamente cômico — uma comicidade meio trágica, que
combina com o espírito do disco. “Roubamos a frase”, resume a banda.



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