The Sisters of Mercy entrega noite intensa e sombria no Tokio Marine Hall
- Denis Svet

- 29 de set.
- 2 min de leitura
Na última sexta-feira (26), o Tokio Marine Hall se transformou em um verdadeiro santuário gótico com a apresentação única do The Sisters of Mercy em São Paulo. Ícone do pós-punk e da darkwave, a banda britânica retornou ao Brasil após uma longa espera, atraindo um público fiel e diverso que lotou a casa e provou que o legado sombrio de Andrew Eldritch continua mais vivo do que nunca.

Vestidos majoritariamente de preto, os fãs deram um verdadeiro espetáculo à parte: maquiagem pesada, coturnos, rendas, couro e olhares atentos compunham uma plateia que parecia saída diretamente de um clube underground europeu dos anos 80. Mesmo após décadas de atividade intermitente e sem lançar material novo desde o início dos anos 90, o Sisters segue sendo uma referência estética e sonora — e o show de sexta foi a prova definitiva disso.
Clima denso e som imersivo
Logo nos primeiros minutos, a atmosfera se impôs: luzes estroboscópicas, fumaça espessa e um som denso que parecia emanar das entranhas do palco. Eldritch, com sua já tradicional postura enigmática, surgiu como uma figura quase espectral, guiando o set com sua voz cavernosa e presença minimalista. Ao lado dele, os guitarristas Ben Christo e Dylan Smith adicionavam energia e peso às faixas, criando uma muralha sonora que preenchia todos os cantos da casa.

O repertório mesclou clássicos absolutos, como “Lucretia My Reflection”, “Dominion/Mother Russia”, “More” e “This Corrosion”, com músicas mais recentes e algumas surpresas. Embora o Sisters não lance álbuns há mais de 30 anos, a banda vem apresentando composições inéditas ao vivo, mantendo o interesse dos fãs por algo além do saudosismo.
Apesar das expectativas elevadas, o show não se apoiou apenas na nostalgia. O grupo entregou uma performance tecnicamente precisa e emocionalmente carregada, sem recorrer a discursos ou firulas. Eldritch mal falou com o público — uma escolha coerente com o personagem que construiu ao longo da carreira —, mas sua comunicação foi direta, através da música e da estética cuidadosamente mantida.

O som, embora potente, teve momentos em que os vocais ficaram um pouco soterrados pelas camadas de guitarra e bateria eletrônica. Ainda assim, o impacto geral foi positivo e a recepção do público, calorosa do início ao fim. O momento mais catártico da noite veio com “Temple of Love”, cantada em uníssono pelos presentes, em uma espécie de ritual coletivo que uniu diferentes gerações.
A apresentação no Tokio Marine Hall foi, acima de tudo, uma celebração do atemporal. Sem precisar de hits nas paradas ou presença constante nas redes sociais, o The Sisters of Mercy provou que certos sons, quando carregam verdade, não envelhecem apenas ganham mais camadas de significado.



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